Capítulo 93

-Você teve essa cara de pau? - Anne balança os pés que não alcançam o chão.

-Tive, eu pensei nele por bastante tempo e pensei no principal: o que eu perderia fazendo isso?, o máximo que ele me diria é um não. - Expliquei a ela tacando um pedaço da folha que catei do chão.

-Bem que você faz, viva! - Ela levanta as mãos, mas quase desequilibra. - E marcaram algo?

-Não liguei pra ele ainda. - Dei de ombros como um "quem sabe amanhã eu ligo".

Estamos na segunda semana de janeiro, e eu pensei sobre várias coisas da minha vida nesse meio tempo que iniciou esse ano. A primeira é que: eu fui demitida. Por um lado eu amei não estar trabalhando mais lá, mas por outro sinto um peso nas minhas costas por ter que procurar novamente um serviço para me sustentar. As outras coisas que pensei foram em prioridades da minha vida.

Em 2013 eu pensei mais no Bruno e no quão bem eu faria à ele, em 2014 vou pensar mais em mim, esperar mais resultados de mim e correr atrás do que eu quero. Comecei ontem, indo até o shopping e entrando na confraria masculina só para falar com o Chucky e pedir o número dele. Pensei também em não mais namorar, vou continuar do meu jeito que em sempre fui, somente ficando com os caras sem compromisso, assim eu nunca quebrei a cara, e quero continuar daquela forma.

Nessas quase duas semanas que passou depois que o Bruno me convidou para a festa do Grammy, eu pensei umas sete vezes em não ir mais com ele. Ele me pegou pelo vestido, porque eu não levo jeito para esse tipo de festa tão importante, mas ao mesmo tempo que pensei em não ir, pensei nele. Eu sou amiga dele, preciso pelo menos agradá-lo em algum aspecto. Está decidido: eu vou ir na festa do Grammy.

-Será que os unicórnios são cavalos gays? - Anne quebra o silêncio me fazendo gargalhar.

-Não creio. - Comecei a rir mais ainda, ela também ria.

Estávamos sentadas sobre a mureta de um parque, Leo estava detalhando algumas coisas no estúdio de gravações, ela conseguiu três semanas de férias, e eu a mais nova desempregada, então resolvemos conversar e tomar um café.

-É sério, sempre que falamos em unicórnios, falamos em cores, neles coloridos, no fim de um arco íris...

-O que tinha no fim do arco íris não é um pote de ouro? - Pergunto.

-Que seja, no meu tem um unicórnio, Leôncio, esperando com um pote de ouro! - Anne se ajeita. - O arco íris é meu.

-Leôncio? Nossa. - Começo a rir mais ainda pelo nome, a quanto tempo eu não ria assim com ela.

-O unicórnio também é meu, dou o nome que quiser.

-Unicórnio me lembra parque de diversões. - Digo iniciando outro assunto.

-Desde o Brasil eu não fui a nenhum parque de diversões. - Lamenta Anne com o beiço do tamanho dos do Dwayne.

-Poderíamos ir qualquer dia desses. - Disse.

-Poderíamos mesmo, aí você já poderia levar seu novo gatinho... qual o nome dele mesmo?

-Chucky! - Respondo e ela ri.

-O nome do boneco assassino. - Ela ri mais um pouquinho enquanto eu penso o quanto de vezes ele já deve ter ouvido essa mesma piadinha, seja na escola, no serviço, ou até na própria família. - Perfeito, assim eu já conheço ele, mas ele deve ser bem melhor que o Bruno.

-Não quero comparar os dois, Bruno é meu amigo, e Chucky é o cara que eu estou de olho.

-Mas você já namorou - ela gesticula as aspas quando falou namorou - com ele e isso leva a comparações. Qualquer um é melhor que ele.

-Anne, você sabe que mesmo sendo poucas vezes, ele me fez muito feliz e muito bem! - Defendo o Bruno, não era sempre que ele me decepcionava.

-Regra de relacionamento: se na primeira noite ele vacila, ele irá sempre vacilar!

-Esquece o Bruno, isso era pra estar sendo uma combinação de irmos no parque de diversões. - Digo incomodada com o assunto.

-Ok, eu não falo mais do Bruno. - Ela gesticula um zíper em sua boca.

-Obrigada. - Agradeço de coração. Não que eu não queira falar dele, mas eu preferia não mexer nos assuntos do passado, o que rolou entre nós já acabou e não voltará, e eu prefiro ficar sem falar nisso. Como eu disse antes: vida nova, bola pra frente.

Meu celular começa a tocar, meu insistente toque de telefone que coloquei à três dias, por motivos de: eu amo a música e estou viciada nela novamente.

-Não tinha um toque mais atualizado? - Anne reclama apontando para o celular.

O pego em mãos e o nome "bruno" apita na tela. Anne espia por cima dos meus ombros.

-Isso é tipo uma praga, não dá pra nem tocar no nome que a criatura já aparece. - Ela bufa e eu atendo entre risos.

-Alô. - Digo tranquilamente, mas ainda com o riso do que Anne disse.

-Uma namorada para o Ge ou uma gatinha, ou um peixe? - Pergunta ele sem ao menos me dar oi.

-Bom, uma namorada para Ge seria uma ótima...um gato acho que seria muito solitário, porque você saí muito em viagens, então acho que um peixe seria o máximo. - Digo enquanto observo Anne catar algo na sua bolsa.

-Um peixe... pode ser um peixe-palhaço?

-Iria combinar com você! - Ele gargalha assim que eu digo.

-É que daí posso colocar o nome de Nemo.

-Coloca de Bart. - Digo e ele fica em silêncio. - Eu gosto dos simpsons.

-Vou comprar dois então. - Ficamos num silêncio meio desconfortável. Anne pega um pacote de chiclete que tinha na bolsa, mas quando apalpa vê que está vazio. Começo a rir dela. - Estou te interrompendo, não é?

-Hã... não, não mesmo. - Tento segurar o riso quando vejo o seu rosto.

-Vou deixar você aí, nos falamos no decorrer da semana. - Vejo que ele não ficou tão contente assim.

-Tudo bem, Bru. Boa tarde, te cuida.

-Boa tarde, Mich, se cuida, e... bom, se cuida! - Minha impressão é que ele iria falar algo.

Quando fiz menção em perguntar o que ele iria falar, o telefone desliga. Guardo ele e explico para Anne o que ele falou. Saímos da mureta e fomos em direção a um café. Entramos em um ciber café, enquanto eu fazia o meu pedido, Anne entrava nas suas redes sociais usando o WiFi.

-Dois donouts com cobertura de chocolate e um copo médio de cappuccino. - Pedi.

-E pra senhora? - Pergunta a moça.

-O mesmo que ela. - Anne disse e a moça que nos atendeu se distanciou. - O que você pediu mesmo?

Comecei a rir dela e falei o que pedi. Os nossos cafés vieram, e eu praticamente os tomei sozinha, pois Anne ficou entretida com suas coisas, e eu fiquei olhando para as pessoas enquanto comia meu donout, um só, pois eram grandes e não conseguiria comer o outro.

Bruno Pov's 

Era simples, ela estava com outra pessoa quando liguei para ela. O propósito da minha ligação era perguntar sobre qual o bichinho que eu poderia comprar e convida-lá para vir escolher comigo, mas não deu. Ela estava com outra pessoa.

Eu sinto que estou perdendo-a a cada segundo que fico parado sem fazer nada. E isso não é legal!

Michelle Pov's 

-Desculpa ligar a essa hora. - Disse quando falei para Chucky que era eu. - Fiquei com medo de ligar antes e seu celular tocar no meio do seu serviço.

-Não, está tudo bem... aliás, como você está?

-Perfeitamente, e você?

-Ótimo. - Diz ele.

-Ah, deve me achar uma louca por pedir o seu número, não é?!

-Não, até que não, eu gostei de você.

Ai meu Deus, ele gostou de mim. Estou parecendo aquelas adolescentes bobocas quando ouvi isso. Ficamos num breve silêncio, até que eu o quebro.

-Sabe quando terá uma folga?

-Creio que nesse final de semana... - Ele deixa a resposta em aberto.

-Estava pensando em irmos a um parque de diversões... não sei se gosta... - Fiquei com receio da resposta que poderia vir dele.

-Claro que gosto, mas só vou saber ao certo amanhã se poderei ir. - Torci os lábios, mas nem eu sei por que, afinal, ele aceitou sair comigo.

-Tudo bem, amanhã nos falamos sobre isso então. - Disse e ele concordou.

Desligamos o telefone e eu fui para o meu banho para poder dormir. No banho pensei nele enquanto a água caía sobre mim. Pensei que ele aparenta ser legal, mas não quero vê-lo como namorado, vamos ser somente aqueles amigos que se pegam, que transam, sem nenhum compromisso, por que eu acho que Michelle + Namoro é = Burrada muito grande no coração que faz chorar e ficar bem depressiva.

++++

(escute essa música)

-Cansei um pouco. - Digo escorando-me na cerca.

-Eu não cansei, mas não tem graça ficar ali sem você. - Meu corpo estremece na base assim que ele diz isso.

Fico envergonhada, é claro, mas eu não tenho que ficar assim. Não sou tão jovem assim, mas sou livre, tenho que aproveitar, eu só tenho que deixar alguma deixa para ele tomar atitude. Olhei para a minha roupa, um simples jeans, um all star branco, uma camisa de manga comprida do Mickey, que peguei nas coisas da Anne, e um moletom preto amarrado na cintura. Meu cabelo estava preso em um rabo de cavalo.

-Está corada. - Ele diz percebeu a coloração mais forte das minhas bochechas. É, elas estavam queimando. - Não precisa ficar sem graça.

-Eu sei que não preciso. - Rebato enquanto me ajeito na cerquinha.

-Te achei linda desde o primeiro dia em que foi no shopping. - Galanteador. Nada que eu não goste, não é?

-E posso perguntar o porque não perguntou meu número, meu nome... sei lá?!

-É que na segunda vez que você foi lá, você estava acompanhada. Bem... do Bruno, e minha colega me disse que havia lido algo sobre vocês estarem juntos a um tempo atrás.

-Há um tempo atrás nós estávamos mesmo, mas sabe como é... tudo na vida passa. Agora ele continua meu amigo e nada mais que isso. - Me incomoda o fato das pessoas pensarem que eu e o Bruno temos algo. Não que eu ache chato, mas é que me irrita porque eu não quero que pensem nisso, não quero que me vejam mais como alguém perfeito para estar ao lado do Bruno.

-Se é assim... - Chucky deixa no ar.

Agora é o momento que eu torço para que ele deixe de ser molenga e me beije. Olhei para o lado oposto ao que ele estava, mas senti ele se mover para mais perto de mim.

Viro meu rosto em sua direção e ouço ele dizer algo como "sem rodeios". Aqueles olhos e aquele rostinho de menino-homem perto de mim fizeram meus hormônios gritarem. Sinto sua mão em minha nuca, e nossos lábios se encostam. Pouco a pouco minha língua explora a sua boca - ok, seu forte pode ser outra coisa, mas ele não beija tão bem assim. Não quero tornar disso um momento romântico, e não quero ficar aqui beijando ele e pensando em como seria legal passar horas beijando a sua boca. Droga! Tô estragando tudo.

Fomos nos desvencilhando e ele sorriu pra mim, colocou a mão na minha cintura e ficamos juntos, frente a frente.

-Seu beijo, me deixou... - Ele não sabia o que falar enquanto seu olhar se perdia em minha boca.

Eu ri, tentei ser o mais discreta possível.

-Achei os pombinhos, mas atrapalhei os pombinhos. - Anne afobada chega perto de nós.

-Não atrapalhou. - Digo ainda envolvida por seus braços na minha cintura.

-Vamos andar em mais alguns? - Pergunta Anne.

Assentimos e prosseguimos. Era estranho, parecia que ele queria pegar na minha mão, ou era coisa da minha cabeça.

Ok, eu estou transformando tudo isso, preciso por os pés no chão. Eu não quero nada sério com ele agora, vou deixar muito tempo passar para ver se é isso mesmo que vai rolar.

Durante os outros brinquedos que fomos, Chucky foi um verdadeiro cavalheiro comigo. Ele tinha várias qualidades - até porque eu não o conheço completamente para apontar seus defeitos -, ele me faz rir, porque é muito palhaço. Ele é lindo, chama a atenção de muitas mulheres, e é espontâneo.

Infelizmente, nem tudo é aquela maré perfeita... esse parque me lembra - e muito - o Bruno e eu. Quando passamos aquele final de semana longe de tudo e de todos, quando ele me esquentou, me proporcionou risadas intensas, me deu um panda de pelúcia...

-Não acha, Michelle? - Pergunta Chucky. Intercalo os olhares perdida na conversa, aterrizando na Terra novamente.

-Acho o que? Desculpa... - Me perdoou por não estar prestando atenção.

-Não acha que está na hora de irmos comer algo? - Pergunta ele novamente e Anne dá uma piscadinha pra mim.

-Ah, claro.

• Oi gente, não me matem, por favor! Vocês tem que entender que a Michelle não pode - simplesmente não pode - ceder tão facilmente para o Bruno. Vocês já ouviram aquela história de tapar o buraco de um amor tentando usar outra pessoa? Entendam que a Michelle quer "viver" "aproveitar", e "não quer saber" do Bruno... Ela sofreu demais, por favor né! 
• Eu achei fofo o beijo :p e vocês? Próximo capítulo segunda feira, kisses.