Capítulo 74

Faltam apenas duas semanas para eu voltar ao meu serviço, que saco! Estou providenciando achar outro para sair de lá, não aguento mais aquele lugar. Final de semana passou voando, e no domingo antes de irmos embora passamos pelo píer de Santa Monica e me bateu a depressão, pois eu pensei no Bruno e na nossa vinda até aqui que foi perfeita.... Porque ele tinha que estragar tudo?

Bati com meus pés na cama novamente, odeio ficar me virando sem ter nada para fazer e desde ontem (quarta) que estou perdendo o sono facilmente, qualquer pensamento antes de dormir me impossibilita de me concentrar no sono assim causando essa catástrofe que é a insônia.

Peguei meu celular para fazer alguma coisa com ele, eu não tinha o que fazer. Abri as imagens e olhei as fotos do final de semana de meninas, e logo as de antes, no dia da festa em que fiquei bêbada, e de bem antes quando Jake me levou para tomar café com ele. Falando nele, amanhã a tarde – ou seria hoje porque já passou da meia noite? – nós vamos a um lugar que diz ele ser seu ponto de pensamentos e seu amor maior. Fiquei morrendo de curiosidade, mas ele não quis me dizer o que era.

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-Coloca uma calça confortável. – Ordena Jake.

-Ok, calças confortáveis.

-Coloca uma blusa que não te aperte e que não fique subindo. Ah, de preferência que não tenha muito decote.

-Isso está me dando medo, mas tudo bem.

-E, você tem botas? Porque se não tiver, tem lá.

-Jake, você vai me levar pra esquiar por acaso? – Perguntei entre risos.

-Lá você verá! – Coloquei o telefone na outra orelha.

-Bom, ok, eu tenho botas... sem salto, não é?

-Isso, sem salto.

-Ta bom querido, está tudo separado, vou me arrumar.

-Ok, nos vemos em uma hora.

-Tudo bem, beijos.

Desliguei o telefone e corri para o banheiro, não posso demorar no banho como sempre demoro. Assim que sai vesti minha roupa, e sempre cuidando o relógio, estou tão curiosa para saber que não vejo a hora de chegar lá. Prendi meus cabelos num rabo de cavalo, e não passei maquiagem – quer dizer, passei um lápis de olho, mas isso é básico.

-Vai aonde? – Pergunta minha tia assim que desço as escadas.

-Vou sair com o Jake. – Sorrio.

-Seria Jake eu possível genro? – Ela pergunta a si mesmo.

-Quem sabe bem futuramente. – Comentei e ela sorri. – Mas não crie muitas expectativas quanto a isso.

Acho que foi meu tempo recorde, faltava apenas quinze minutos para o horário que tínhamos marcado, e meu coração palpitava... o que a curiosidade não faz com nós? Ouvi uma buzina na frente de casa depois de um tempo distraída com algum programa de tv. Dei tchau para minha tia e abri a porta.

-Olá. – Digo chegando perto do carro.

-Ual, está linda como sempre. – Suas palavras me deixam sem jeito.

-Obrigada. – Torço o sorriso.

Fomos o caminho escutando músicas de seu pen drive. O caminho parecia bem distante, mas ainda nem era meio dia, então tínhamos tempo para irmos e voltarmos tranquilamente, mesmo eu não sabendo onde estávamos indo.

-Vou confessar que estou com medo! – Digo e ele ri.

-Não fique. – Jake encabulado quase coloca a mão sobre a minha coxa, mas parece que pensa em algo e a tira. – Hoje o dia está bonito, ainda bem.

-Não foi trabalhar? – Pergunto mudando de assunto.

-Coloquei um falso atestado, alegando que estava com dor nos dentes. Ainda tenho problemas com meu siso.

-Porque não o tira? – A dor do siso é a pior dor que eu poderia sentir na minha vida.

-Vou fazer isso, mas tenho que marcar com o dentista.

Não sei se é sina, não sei se é coincidência, ou sei lá, mas tocou uma música no pen drive que uma vez eu escutei, no tempo que ainda estava com o Bruno. Eu cheguei a intitular de nossa... Fiquei cantarolando a música na minha cabeça quando de canto de olho vi Jake a cantar.

-Quem canta essa música? – Quebre o silêncio.

-Florence. – Diz ele rapidamente.

-Gosto dela... – Não sei se eu gosto ou se eu lembro do Bruno e por isso gosto dela, aí que confusão.

-Ela é legal, mas não é uma das minhas preferidas.

-E qual é a sua preferida? – Pergunto.

-Coloca a número 34. Por favor.

Fui passando com meu dedo pelo pequeno botão do rádio até chegar na música que ele queria. (pode dar play)

I can't fight this feeling any longer

(Eu não consigo mais lutar contra este sentimento)

And yet I'm still afraid to let it flow

(E no entanto, tenho medo de deixá-lo fluir.)

What started out as friendship has grown stronger

(O que começou como uma amizade tornou-se mais forte.)

I only wish I had the strength to let it show

(Eu só queria ter a força para demonstrar isso.)

Ele cantava e sua voz era doce, não como um cantor profissional, e sim como alguém que estava cantando com seus sentimentos e não somente pela voz. Meu coração tremeu na base quando eu parei de prestar atenção na voz dele e comecei a escutar a letra da música. Eu já tinha ouvido ela em algum lugar.

My life has been such a whirlwind since I saw you

(Minha vida tem sido como um vendaval desde que vi você,)

I've been runnin' round in circles in my mind

(Eu tenho corrido em círculos dentro de minha mente.)

And it always seems that I'm following you girl

(E sempre parece que estou seguindo você, garota.)

'Cause you take me to the places that alone I'd never find

(Pois você me leva a lugares que sozinho eu nunca acharia.) 

Engoli a seco toda a música, não quero pensar que é pra mim. Quando ela finalmente acabou, Jake deu um sorrisinho tímido e com o pensamento tão distante.

-Pra quem é essa música? – Pergunto quebrando o clima.

-Pra ninguém. – Seu suspiro sai logo após do que ele fala.

-Tem alguém de especial, pode me falar, sou sua amiga. – Digo a ele que olha pelo espelho retrovisor.

-Tinha uma garota na minha faculdade, Rachel, era de um curso diferente que o meu, mas eu sempre ficava observando ela de longe, principalmente quando estávamos na cantina. Eu tentei aproximação dela, e consegui. Começamos desde o inicio, sendo amigos e quando vimos estávamos bem próximos. – Ele começa a rir. – Um dia eu quis impressiona-la e peguei a primeira música que vi da banda favorita dela, os REO Speedwagon... Eu não tinha noção do que estava fazendo, mas foi por essa música que consegui ela.

E graças a Deus não foi pra mim! A história dele com essa menina é legal, mas porque ele nunca me falou dela? Fiquei pensando nisso.

-Porque nunca me falou nela? – Perguntei.

-Na verdade não sei, a faculdade acabou e nós não nos falamos mais...

-Ih, já vi que sente saudades dela.

-Sabe que eu sinto, mas não acredito que vamos voltar um dia ou que nos reencontraremos, sei lá, perdi as esperanças.

-Olha, você sabe que depois de dez anos eu reencontrei o Bruno, não sabe? – Ele assente. – Então, não perde as esperanças.

-Mas tenho medo de fracassarmos que nem vocês dois.

-Nossa!

Fiquei sem palavras. Fracassamos? Eu e o Bruno não fracassamos, só vimos que não havia motivos para ficarmos como namorados e que dávamos melhores como amigos, assim como sempre fomos. Fracassamos ficou martelando na minha cabeça.

Jake pediu desculpas e disse que se expressou de maneira grotesca, claro que aceitei as desculpas por que afinal eu não devo ficar brava pelo que de certa forma é verdade. Chegamos em um lugar que para mim parecia um hotel fazenda. Jake falou com um cara no qual nem me deu oi. Fomos indo para dentro da grande casa. Havia uma espécie de restaurante onde nós sentamos em uma mesa.

-Você me trouxe para comer, que suspense. – Fiz cara de decepção.

-Isso é a entrada, o prato principal ainda virá.

Não sei porque fiquei com medo dessa frase, mas sorri para ele. Pedimos a mesma coisa, o prato do dia. Era comida caseira, massa a carbonara e mais algumas coisas. Não comi muito. Jake e eu andamos pela casa/hotel. Não sei o que era aquilo, mas estava me cheirando a lugar legal. Entrou um bando de homens com capacetes e todos com uma espécie de uniforme.

Nós demos um tempo sentados em um banco ali dentro mesmo, eu fui ao banheiro e quando voltei ele estava falando com o mesmo cara que falou assim que entramos.

-Bom, Mich, vamos conhecer o lugar. – Ele caminha uns dois passos na minha frente. – Vai ser legal.

-Se você diz. – Dei de ombros.

Chegamos ao tão distinto lugar, estávamos em um hipódromo. Fiquei olhando três cavalos que ali corriam, e umas duas pessoas sentadas nas arquibancadas. Jake abriu um sorriso tão iluminado que o sol refletiu sobre e me fez apertar os olhos.

-Bem vinda ao meu lugar favorito! – Ele abre os braços.

-Jake, isso é incrível! – Digo ainda olhando abismada para os cavalos.

-Venha. – Jake pega minha mão e me puxa delicadamente. – Quero mostrar meu cavalo pra você!

-Você tem um cavalo? Rico! – Digo enquanto caminhávamos.

Um estábulo foi aberto por um homem gordo e parrudo que estava vestido com algum uniforme verde musgo. Entramos no estábulo e ouvi alguns relinchos dos cavalos e comecei a rir nervosamente. Nunca montei em um e tenho muito medo disso.

-Michelle, apresento a você meu cavalo Eclipse. – Tive um ataque de risos na hora.

-Desculpa, mas que nome estranho.

-Eu gosto. – Ele coloca a mão para acaricia-lo. – Vem cá amigão. Coloca a mão aqui. – Diz ele pra mim.

-Não, eu tenho medo.

-Ele não fará nada, ele é calmo.

Coloquei minha mão e antes mesmo que encostasse no cavalo, eu a tirei. Comecei a rir não sei porque, mas logo coloquei minha mão novamente. Senti seu pêlo bem cuidado e macio, um pouco de sua longa crina encostou nos meus dedos e eu ri pelas cócegas.

-Eles são encantadores e extremamente inteligentes. Eles podem sentir nosso amor, assim como eles também expressam o seu. Sinto-me livre e feliz quando estou aqui dentro, é meu santuário e montar cavalo é minha religião. Meu pai tem dois prêmios, um de primeiro lugar e outro de terceiro, um dia ainda terei pelo menos um, e foi ai que conheci meu esporte favorito.

-Vai me fazer chorar. – Comentei tirando a mão do belo cavalo.

-Não é minha intenção. – Jake olha para o Eclipse e seus olhos sorriem pela forma de amor que ele tem àquele animal. – Paul, tem como arrumar o Eclipse e a Rose para darmos voltas?

Paul é o cara parrudo que abriu a porta, ele tinha a voz grossa e disse que iria arrumar. Eu e Jake voltamos para a casa/hotel, foi entregue a mim o equipamento todo, até o capacete e a cela. Peguei tudo e me aprontei no banheiro, encontrei Jake já pronto e saímos para a pista.

Eclipse, o cavalo do Jake, eu não tinha o visto antes todo seu corpo. Ele é de uma cor caramelo, com o peito branco, ele é bem cuidado e seu pêlo de longe brilha. Rose é o cavalo que eu montarei, ou melhor, a égua. É branca e seus pêlos são mais grossos que o de Eclipse, Jake disse que é porque Rose é mais nova que ele.

Foi colocado a cela nos cavalos e um instrutor veio me ajudar. Ele me ensinou tudo antes, tim-tim por tim-tim, enquanto Jake já tinha montado e já ia iniciando sua primeira volta. Fiquei acompanhando com os olhos sua volta no cavalo. O instrutor me ajudou a subir no cavalo.

-Lembre, coluna ereta, olhar frontal e tente não demonstrar que está com medo. De maneira alguma bata no cavalo, nem de brincadeira, pois ele pode se irritar e acabar derrubando você, entendido? – A maneira que ele fala, grossa, não me agradou.

-Entendido. – Respondi.

-Vou fazer a volta com vocês puxando o cavalo, você não andará sozinha com ele até ter mais aulas para pegar a aptidão.

-Tudo bem. – Disse em voz alta. – Sargento! – Falei na minha cabeça e comecei a rir.

Segurei-me onde ele pediu e me indireitei na pose. Assim que Rose começou a dar seus passos meu corpo tremeu por inteiro, a primeira sensação e pensamento que vem na cabeça é “meu Deus, vou morrer”. O capacete soa um pouco na minha cabeça, mas nem dou bola, pois preciso prestar atenção nas coisas.

- O que o cavalo dele está fazendo? – Pergunto olhando para Jake.

- Está troteando. – Responde. – Cavalos só podem trotear e galopar quando o cavaleiro já tem experiência.

Aí que homem nojento. Fiz uma careta boba e continuei prestando atenção na minha primeira cavalgada. Isso é emocionante. O instrutor estava falando sobre como usar as rédeas, enquanto eu olhava para a Rose completamente apaixonada pela doce Égua que é.

Demos uma volta e quando chegamos no lugar de onde partimos pedi a Jake que tirasse uma foto minha, eu precisava disso para me lembrar de como esse dia está sendo legal e produtivo, acho que achei um novo amor: cavalos.

++++ 

-Obrigada pelo ótimo dia que tive. – Falei para Jake quando chegamos na frente da minha casa.

-De nada, quando quiser ir lá me chame, adorarei ir com você.

-Obrigada novamente. – Comecei a rir.

-Então, até mais.

-Até.

Dei um beijo na sua bochecha, mas foi no canto de sua boca. Respirei fundo e saí do carro dando um tchauzinho com as mãos pra ele.

• Heey, cheguei aqui no final! Prometi que iria postar na segunda e cá estou eu! Ah, quarta tem outro e o tamanho do capítulo depende da boa vontade de vocês <3