Capítulo 108

Entrando na casa e Bruno continuando na piscina, o telefone residencial toca. Fico com receio de atender, não tenho essa mania de me intrometer nas coisas que não são minhas, principalmente quando eu não estou em casa.

Coloco a mão sobre o gancho e puxo para minha orelha.

-Alô. - Digo.

-Ah, oi, Michelle o Bruno está por aí? - Logo reconheci, pelo jeito que falou comigo, que era a Tiara.

-Ele está na piscina. Quer que eu chame ou dê recado?

-Não precisa chamar, papai queria saber se estava tudo bem por aí e pediu para ele ver as contas no vizinho.

-Ah, pode deixar que eu dou o recado pra ele.

-Ok, obrigada, tchau.

Grossa! Nem esperou eu dar tchau e já desligou. Eu sinto muito se ela não quer que eu me aproxime do seu irmão, mas nós não mandamos em nossos corações. Se tem uma coisa que eu vi desde ontem, e que essa tarde comprovou, é que o verdadeiro amor nós nunca esquecemos. Bruno me levou ao paraíso e me deixou por lá.

Claro, ainda estou com aquele friozinho na barriga pensando que pode dar tudo errado.

++++

Vesti minha blusa assim que saí do banho. Andei pelo quarto praticamente pelada, procurando algo para vestir na parte de baixo. Havia três opções... Saia? Não, muito romântico para apenas um jantar. Short? Hm, short, seria uma ótima, mas ele é meio curto para um jantar. Calça? É, a melhor e única opção.

-Se continuar desse jeito nós vamos sair para tomar café da manhã. - Bruno bate na porta do quarto me assustando.

-Calma, estou vestindo minha roupa. - Aviso-o.

Desde nossa tarde e depois nosso beijo no jardim, não falamos mais nada que incluísse "nós dois". No fundo eu tenho medo do que poderíamos acabar concluindo nessa conversa. Das duas coisas, uma: ou nós estragaríamos a viagem, ou nós íamos nos ajeitar juntos. Eu não sei porque essa ideia de nos ajeitarmos não é o que mais me atraí. Quem sabe o Bruno só está confuso.

É, isso, como eu estou também.

-Confusa. - Digo em voz alta e ouço um barulho do corredor.

-Tá falando sozinha, doente? - Bruno fala num tom brincalhão.

-Vai a merda, Bruno! - Grito pra ele agora tirando a toalha da minha cabeça.

-Sério? Vou esperar você olhando televisão lá embaixo, não demore princesa.

Comecei a rir do ótimo senso de humor que ele estava. Penteio meus cabelos e os deixo como de praxe, soltos e esvoaçantes, passo um lápis de olho rapidamente e calço minha sandália preta de tiras finas. Até que pra quem não estava com roupas chiques, eu estava bem apresentável. Cobri meus lábios com uma fina camada de gloss rosa fraco e saí do quarto.

Desci as escadas tranquilamente e calmamente para acabar não caindo. Bruno provavelmente ouviu o toque dos meus sapatos no chão e levantou do sofá. Nos olhamos rapidamente, a faísca que saiu dos meus olhos era perceptível à quilômetros de distância, era aquela faísca de quem estava com saudades e de quem queria  descer aquelas escadas e correr para seus braços. Tudo nele me chamava atenção naquele momento, desde seus lábios, até seus sapatos que eu queria ver longe do seu corpo, de preferência no chão do meu quarto, junto com os meus.

Naveguei aquela maré de pensamentos quando fechei os olhos e por breve momento imaginei minha vida ao lado dele. Dei um sorriso e abri os olhos calmamente.

-Você está tão linda. - Elogios que me desarmam.

-Muito obrigada. - Respondi baixinho, quase que inaudível.

Pegamos um táxi na frente da casa e o caminho foi com o cara conversando sobre a fama do Bruno, dizendo que tinha orgulho desse talento todo ter saído do Havaí. Eu fico orgulhosa sempre que as pessoas se retratam ao Bruno com esse orgulho e elogiando seu trabalho. Bruno pagou o taxista e quando entramos no restaurante fomos recebidos calorosamente. Digo, ele foi recebido assim. As pessoas me cumprimentavam para não ficar tão feio. Andei ao lado dele, e fomos acompanhados até a mesa que estava no palanque do lado de fora. Haviam cinco mesas no palanque, uma delas era para nós.

Ao sentar-me vi o brilho da lua iluminando a noite, o mar ao nosso lado, a areia quase colorida pelas cores que haviam nas luzes dali. Bruno estava entusiasmado pegando o cardápio. Sem ao menos pesquisar mais um pouco, Bruno pôs o dedo sobre o cardápio e apoiou-o na mesa para me mostrar.

-Eu quero pedir cozido de tubarão, há quanto tempo não como. - Ele lambe os lábios como se já estivesse degustando da comida. Faço uma cara de nojo, mas não exito em comer coisas bem típicas daqui, quanto mais Havaí, melhor.

-Boa ideia. - Dou de ombros. - Mas acho que irei preferir costeleta a moda de Hilo. - Coloco a mão sobre onde está escrito e Bruno encosta delicadamente no meu dedo, colocando o seu por cima.

-Gorda. - Balbucia ele.

-É você. - Retruco como uma criança.

-Já escolheram os pedidos? Aceitam a sugestão do chefe? - Pergunta uma moça vestida a caráter, chegando na mesa.

-Ah, dispensamos a sugestão hoje... Cozido de tubarão para mim, e para a moça uma costeleta Hilo. - Bruno diz simpaticamente.

-Para beber? - Pergunta ela anotando já o que Bruno havia pedido.

-Vinho? - Pergunta ele pra mim. Dei de ombros, o que ele quisesse tomar por mim estava bom. -Vinho, uma safra antiga de preferência.

-Tudo bem... Algum petisco antes?

-Não, obrigada! - Responde o Bruno para a moça, mas olhando para mim.

-O que foi? - Pergunto assim que ela saí da nossa mesa.

-Eu já tinha dito antes que eu não conseguia parar de te olhar.

-Bruno... - Meu rosto cora e as palavras fogem.

-Podemos conversar agora ou depois da janta? - Pergunta ele.

Fico encurralada com isso. Conversar sobre o que? Penso em mil possibilidades, mas acho melhor conversarmos depois da janta, porque dependendo da conversa, eu posso perder o apetite, ou podemos quebrar o clima tão legal que estamos. Apoio um cotovelo na mesa e coloco a mão do lado da cabeça e fico encarando seu rosto. Tudo que eu olhe pra ele vai me lembrar do "eu te amo" e da primeira vez que fizemos amor de verdade.

-Ah... melhor depois. - Respondo saindo do transe em que entrei.

-Ok.

Quando recebemos nossos pratos, uma dupla subiu no palco do lado de dentro do restaurante, mas a música dava para ouvir dali de fora. É legal o som da menina cantando e do homem tocando os instrumentos necessários. Eu comia a comida com gosto, amando sentir o belo gosto que tinha, mas ao mesmo tempo que queria muito comer, ainda tinha uma frestinha de medo em minha barriga dizendo para eu não comer tão rápido porque ainda tenho que conversar com o Bruno. Eu não sei qual será o desfecho dessa conversa, não sei nem sobre o que é, mas minha barriga treme de ansiedade e medo ao mesmo tempo.

Assim que terminamos de comer - Bruno terminou antes de mim - juntamos nossos pratos um pouco mais para frente e vieram recolhe-los. Pedimos em conjunto pudim havaiano, precisava comer mais coisas típicas, mas já vi que sairei daqui como um boto.

-Ótimo, não é? - Pergunta ele empurrando o pratinho para frente assim que termina de comer o pudim.

-Maravilhoso. - Respondo dando minha última colherada.

-Podemos conversar agora? - Pergunta ele apreensivo.

-Cla-claro. - Gaguejo um pouco e limpo minha boca com o guardanapo.

(Escute essa música até o final do capítulo <3)

-Então, alguma coisa que aconteceu ontem e hoje, significou algo? - Ele foi tão direto que sinto o soco na boca do meu estômago.

-Ah... é, sim. - Respondi, mas na verdade eu nem sabia diferenciar o que significou na realidade.

-Não irei perguntar o porque, mas eu posso dizer o que significou pra mim? - Assenti positivamente e ele pigarreia.

-Michelle, eu sempre fui o pior cara pra você, sempre te decepcionei, e todas as vezes que eu mais precisei você esteve do meu lado. Desde pequenos, eu nunca imaginei sentir algo assim, e quando me entreguei pra uma pessoa, me decepcionei. Vi umas histórias de pessoas que desligavam as emoções, que eram sem corações, e assim não se machucavam... Eu pensei que essa era a melhor saída, até você chegar!

"Tratei todas as mulheres como objetos, você mesmo que diga isso. - ele ri baixinho para descontrair. - o que aconteceu aqui foi a melhor coisa. Eu tirei o peso da minha consciência, eu pude enxergar como é bom ter alguém do meu lado, e hoje pela tarde quando eu acordei e você estava ao meu lado, eu desejei com todas as forças que esse momento se eternizasse. Foi ali que eu vi que não posso passar mais um dia amando você. - Isso me assustou, até porque ele deu uma grande pausa. Minhas mãos já estavam entrelaçadas uma a outra e suavam. - Eu parafraseei mal... Eu não posso passar mais uma semana da minha vida amando você sem saber se no final do dia você é minha ou não. Eu preciso de uma certeza... Eu preciso saber se você aceita namorar comigo?!"

Se eu estivesse desprevenida, garanto que cairia da cadeira. Desviei o olhar dele por segundos, contemplando a lua cheia que iluminava boa parte. Voltei a olha-lo, que esperava ansioso por uma resposta minha. Poxa, quanto tempo eu esperei por isso mesmo? Faz dois anos ou faz vinte e oito? Desde que eu o conheci, ou desde que o revi. Muita coisa aconteceu, mas além de muitos conselhos que minha mãe me deu, ela ensinou algo pra minha tia que foi passado pra mim também: "quando a sorte bate na sua porta, você tem duas escolhas: deixar ela entrar ou dizer que está ocupado sofrendo e ela precisa voltar mais tarde."

Eu não posso simplesmente dizer que não e deixar o Bruno sair da minha vida mais uma vez, mas um dia ele me deixou ir, e eu nunca quis ir, eu sempre quis ficar ao seu lado. Porque as coisas tendem a serem complicadas assim?

-Michelle, idiota, o amor da sua vida está na sua frente pedindo, quase implorando, para que você seja dele. Não seja idiota. - Minha cabeça girava e pensava coisas das quais eu escutava com atenção, como se algo sussurrasse em meu ouvido isso.

-Bruno. - Chamei a atenção dele que olhava para o lado. Seus olhos encontraram os meus. Pude ver pelo reflexo de seus olhos brilhantes como os meus sorriam quando eu o via. - Eu preciso de você. - Fechei meus lábios enchendo minhas bochechas de ar para segurar as lágrimas que insistiam em vir.

-Você não sabe o quanto me faz feliz. - Ele sorri, seus olhos sorriem, seus lábios se abrem, e meu coração se derrete. Eu sou entregue a cada sorriso que ele dá, e isso não é controlado por mim, é extinto. Como se eu precisasse dele para viver e que seu sorriso me abastecesse.

-Bem vindo a minha vida novamente. - Dei um sorriso de lado e ele estica a mão para pegar a minha.

-Minha vontade é de sair gritando que você é minha. - Uma lágrima caí do meu olho. - Eu te amo tanto, pequena.

++++

Saímos do restaurante de mãos dadas, é engraçado como eu sentia a vibração do seu corpo e a reação que o meu tinha com apenas um toque de sua pele na minha. Andamos um pouco para esperar a comida baixar e enquanto íamos seguindo nosso caminho, sendo banhados pela linda noite, eu agradecia mentalmente por tudo isso.

-Eu preciso ligar para o Phil. - Diz ele. - Ele encorajou-me a fazer tudo isso, ele que conseguiu me mostrar como abrir os olhos para os meus sentimentos e como me expressar pra você.

-Phil é o nosso cupido. - Comecei a rir.

-Desde que no nosso primeiro beijo ele cantou We found love. - Como ele lembra desses detalhes tão bobos.

-Como lembra? - Pergunto não esperando uma resposta, foi mais um pensamento alto.

-Eu lembro de tudo. Lembro que te devo um baile de máscaras, lembro que tenho que levar você para vermos O Fantasma Da Ópera novamente. Lembro que temos de voltar ao píer de Santa Mônica para nos divertirmos como nos divertimos aquele final de semana. - Não aguentei mais uma lágrima sequer em minha via lacrimal. Meus olhos banharam-se de toda a lágrima possível que corriam pelo meu rosto também. Bruno escorou-se em um muro de uma casa e me puxou para um abraço.

Eu chorava, mas era um choro de desabafo, de alegria, um choro que estava reprimido. Seus lábios tocam a minha testa num singelo beijo e ele sorri diante do meu rosto.

-Não chora. - O dorso de sua mão secou a lágrima que caía na hora.

-Eu estou feliz, e eu não consigo imaginar que isso é verdade... tá tudo tão surreal. - Soluço e olho em seus olhos. - Obrigada.

-Eu tenho que te agradecer...

-Pelo que? -Pergunto.

-Por tudo. Obrigada por me amar. Obrigada por estar ao meu lado quando eu mais preciso, quando me perco, quando não sei quem sou, quando mergulho e não encontro o caminho de volta. Obrigada por me amar nos meus dias ruins, quando estou assustado ou agressivo, chateado ou morno. Obrigada por me amar mesmo sendo mandão, mimado e bravo. Obrigada por me amar quando não sei o que fazer, quando não consigo dizer ao certo o que preciso, quando o que aparece é só o meu avesso. Obrigada por amar minhas fraquezas, angústias e asperezas. Obrigada por amar minha sujeira, meu lixo interno, meu lado azedo e estragado. Obrigada por amar meu jeito muitas vezes infantil. Obrigada por amar meus defeitos, que não são poucos. Obrigada por amar minha forma desastrada de ser. Obrigada por me amar quando falo sem pensar, quando o filtro vai embora, quando surto, enlouqueço, grito ou vomito frases feias. Obrigada por me amar quando eu erro. Obrigada por me amar quando eu não sou tão legal. Obrigada por me amar quando o amor anda na corda bamba. Obrigada por me amar quando eu acabo esquecendo de gostar de mim. Obrigada por amar o que escolhi ser. Obrigada por amar quem eu sou e não quem você gostaria que eu fosse. Isso, sim, é amor. 

• É agora que Brunelle ingressa na nova jornada. Chega de faze-los sofrerem, não é? Ah gente, esse texto de "obrigada" é um texto muito lindo - até deixei ele em itálico, porque não é de minha autoria. Ele pertence à Clarissa Côrrea. Espero que tenham curtido o pedido de namoro. E pra quem acha que a fic vai acabar logo agora... eu vou fazer mais algumas aventuras Brunelle antes de chegar ao fim <3 Bom, é isso! Comentem *u* próximo vocês já sabem quando :p