Capítulo 105

Acordei com a decisão de que eu não iria ver o túmulo dos meus pais hoje, e então só avisaria para o Bruno que hoje estou afim de fazer algo mais light.

Ontem eu e Bruno fomos em um mercado. Ele ficou do lado de fora enquanto eu comprei algumas coisinhas práticas para comermos, então eu tenho como tomar café da manhã descente. Parei pra pensar ontem a noite, assim que encostei a cabeça no travesseiro para dormir, eu estou feliz por ele estar aqui comigo, feliz mesmo. E mais feliz estou por saber que ele percebeu que no fundo eu poderia precisar de uma companhia para caso caísse em uma depressão - o que não vai acontecer, agora eu sou mais forte, aprendi a conviver sem eles, somente me resta a saudades.

Desci as escadas e liguei a televisão para parecer que eu não estava completamente só, já que o Bruno ainda está dormindo. Na cozinha arrumei um pedaço de um baguete com pasta de amendoim, algo que eu não como há muito tempo, e servi um copo de suco. Olhei para a mesa com a bandeja em mãos, mas prefiro o aconchego de um sofá.

-Pasta de amendoim, eu também quero um sanduíche. - Não tinha dado de conta que Bruno estava se aproximando até ele falar isso.

-Ah, oi, bom dia. - Falo com a mão na frente da boca por ainda estar mastigando um pedaço que peguei.

-Bom dia. - Ele sorri. - Hoje eu acordei tão bem.

-Que ótimo, eu também, tanto que hoje não quero fazer nada que me deixe triste.

-Então vamos para a praia, vamos lá olhar aquela água cristalina.

-Eu topo. - Tomo um gole escasso do meu suco e ele se vira para ir pra cozinha.

Volto meu olhar para a televisão que estava dando a previsão do tempo.

Bruno Pov's

Eu estava me arrependendo de vir pra cá quando peguei o avião, passo mil e uma coisas na minha cabeça, incluindo o que eu iria fazer, se iria contar de uma vez, se iria esperar o final da viagem para caso ela desse um fora em mim. Pensamentos borbulhavam na minha cabeça, mas hoje nós decidimos ir a praia, e é lá que eu vou tomar alguma atitude, não aguento mais prender isso em mim.

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Coloquei uma bermuda e uma regata, coloquei meu boné, estava com preguiça de arrumar o cabelo num topete. Esperei Mich no portão, e lá aparece ela com um short jeans bem bonitinho, uma regata branca e chinelos. Eu tenho que tomar coragem para dizer tudo o que eu sinto assim que nós chegarmos na praia. Eu estou ficando doente de tanto guardar isso pra mim e não poder falar nada pra ninguém.

Michelle Pov's 

(escute essa música até o final, se precisar repetir, repita <3)

Não canso de dizer como está ótimo voltar aqui, de como tudo está extremamente perfeito. Eu não esperava presente que fosse me deixar tão feliz, tão aliviada, tão bem como esse. Olhei para o Bruno que estava sentado na areia, olhando para seus pés descalços e então levei um susto da água vindo um pouco mais forte para frente e pegando nos meus pés até as canelas. Dei um gritinho e me abaixei para tocar nela.

Sei que parece a coisa mais idiota, mas eu abri os braços ali, fiquei olhando para a imensidão azul do mar desejando que quando eu fechasse os olhos, voltasse para aquele tempo que eu era tão feliz – não que eu não seja agora, mas sempre me bate aquela saudades de tudo que já me aconteceu, aquela saudades dos meus pais, aqueles conselhos bem vindos, os puxões de orelha, parece coisa de filme, e quando escutamos “vamos dar valor enquanto é tempo e enquanto temos” pensamos “nossa, que coisa mais clichê”, mas eu nunca vi algo tão real. Se eu soubesse, pai e mãe, que vocês iriam cedo para longe de mim, eu teria feito coisas melhores, eu teria sido o exemplo de filha. Só queria ter a chance de mais uma vez pedir desculpas, queria poder mostrar que eu não sou um desastre totalmente, e que vocês nunca deveriam ter deixado eu e meu irmão. Sei que somos grandinhos agora, mas não há nenhum único dia que eu não pense em vocês, pense em seus carinhos e em tudo que nos passaram. Seja de onde estiverem, espero que estejam bem e que sintam que vocês deixaram saudades não só para nós.

Abri os olhos e olhei pra baixo, eu ainda continuo a mesma Michelle de 28 anos! Pisquei diversas vezes meus olhos para não chorar. Virei meu corpo para trás, num giro 180º à procura do Bruno, mas ele não estava mais sentado na areia. Algumas pessoas estavam conversando num quiosque, outras na areia, e o Bruno completamente sumido. Meu coração palpitou.

Novamente voltei a ver o horizonte, e não me importando com a roupa que irá encher de areia, sentei-me no chão e coloquei meu celular no meio dos meus peitos para não molhar.

-Aceita? – Bruno me assusta quando senta ao meu lado. Olhei para suas mãos com um Hawaii Drink, provavelmente sem álcool.

-Não, obrigada. – Digo voltando a observar o mar.

-Pensativa... Está gostando de tudo isso? – Pergunta ele. Prendo meus cabelos em um coque para não voarem mais sobre meu rosto. Prendo a respiração e solto pesadamente.

-Estou amando, e desculpas se eu não disse nada a altura ainda, mas eu não tenho palavras para descrever o que tudo isso daqui é pra mim. – Uma sensação forte veio junto com um ventinho que bateu em minhas costas primeiro, uma sensação... boa, estranha, repentina, daquelas que fazem você se arrepiar.

+++

-Acho que já está tarde. – Digo olhando para a praia deserta.

-É, eu também acho. – Bruno se espreguiça.

-Vamos então? – Ameaço a levantar, mas ele segura meu braço mais próximo do pulso.

-Espera... – Fiquei esperando ele falar algo. – Escuta, Mich... eu não quero estragar a viagem, mas existe um motivo de eu estar aqui com você.

Meu coração parou, eu sei que lá vem alguma bomba, e por incrível que pareça na minha mente só passou desgraça, como doenças, e essas coisas. Credo!

-Pode falar. – Eu não sabia o que viria pela frente, mas permiti que ele dissesse.

-Sabe o que acontece quando eu fecho meus olhos? – Ele pergunta e eu nego com a cabeça. Sua mão que estava começando a ficar suada saí do meu braço para se unir com a outra dele, num compasso de nervosismo. – Eu vejo que eu poderia ter uma vida perfeita, aquelas vidas de filmes. Eu sou completo por um lado, mas por causa de um acidente eu acabei perdendo minhas esperanças, tendo medo de entregar-me as pessoas erradas, de dizer o que eu sinto e confiar no amor, confiar num sentimento que é incerto, no qual só eu posso saber se estou sentindo. Eu sabia que estava perdendo tudo cada vez que eu lhe fazia chorar, eu sabia que estava pondo tudo a perder, mas no fundo eu era ainda aquele garoto de 16 anos do Havaí, que tinha medo de andar sozinho de noite e agora por consequência dos meus erros, posso estar tendendo a andar sozinho pelo resto da vida... Michelle, eu tive que tomar meses de coragem para falar essas coisas, é difícil para um homem abrir o coração, pra mim principalmente.

Meus olhos estavam cheios de lágrimas, mas eu não queria chorar, pois queria ouvir com atenção a cada palavra que ele tinha que falar.

-Pode parecer extremamente gay isso, e eu não me importo, desde que eu consiga ter paz para dizer tudo que está entalado aqui. – Ele aponta para sua garganta.

-Bruno... – Algo me dizia “interrompa isso, não dê ouvidos, você lembra do quanto ele lhe machucou...”

-Não, por favor, depois que eu terminar lhe dou todas as palavras, mas agora é minha vez! – Bruno respira fundo. – Voltando para o que estava falando. Quando eu fecho meus olhos e os abro, penso nos seus olhos, em você, no que você me trouxe novamente. O poder de um único olhar me desarmar. Nem eu sabia que havia tanto sentimento dentro de mim. – Não era só eu que estava prestes a chorar. – Eu não posso lhe dar um filme, uma comédia romântica, não posso prometer mundos e fundos para você, pois promessas são palavras deixadas no vão do futuro, e são mais do que incertas, e agora eu quero falar das minhas certezas mais que tudo.

Respirei profundamente e ajeite-me sentada na areia. Olhei para a lua que já estava subindo no céu que antes se fazia azul celeste, agora era escuro estrelado.

-Desde que você se foi, desde que não olhou mais pra mim com aquele amor e paixão nos olhos, eu não sei pensar em outra coisa ao não ser você! Eu fico fantasiando a chance que eu teria de dar uma boa vida a você, um amor, um marido, uma casa, uma família, um cachorro, quem sabe filhos... mas o único culpado por isso não se tornar realidade, sou eu! – Agora suas mãos geladas tocaram nas minhas, uma completa fusão do toque das nossas peles, apenas com esse mínimo contato. - Eu quero estar ao seu lado, mas não só nos momentos em que você sorrir, mas quero estar junto com você quando estiver triste, pra te dar motivos pra sorrir novamente.

Levantei-me da areia e ele ficou me olhando quando puxei minha mão da dele. Por que isso logo agora? Pra me confundir mais, pra chorar mais, pra estragar tudo que já estava no lugar. Eu não estou completamente bem assim do jeito que estou vivendo, mas estou levando a vida melhor do que quando corria atrás do Bruno dizendo que o amava, e ele me levava pra cama e depois estava com mais outras mulheres. Há quantas doenças eu posso ter ficado exposta? Sei que ele se cuida, mas sabe-se lá no calor do momento. Há quantas mulheres passaram por ele quando eu passei? Só de pensar nisso volta aquele velho nó no estômago.

-Desculpa. – Digo desviando o olhar dele sentado no chão e caminho em direção da beira do mar.

-Michelle! – Ele chama minha atenção.

Virei-me bruscamente e olhei para ele vindo desengonçado até mim.

-O que foi Bruno? Quer contar como você está se sentindo agora, justo quando eu estou bem e estou me curando da merda do sentimento que eu sentia por você? – Olhei nos seus olhos e ele balançava a cabeça negativamente bem devagar. – Bruno, eu não sou brinquedo, eu sentia, eu falava abertamente para você, eu me entreguei de corpo e alma, e graças a você meu “primeiro namorado” – Gesticulei as aspas – eu perdi as esperanças nos relacionamentos. Você me mostrou que eu não devo confiar em ninguém porque até mesmo seu melhor amigo pode usar você para algo! – Digo despejando toda minha raiva como se fosse um suco dentro de um copo. – Fico feliz que tenha voltado a sentir, mas eu tentei isso o tempo todo e não consegui...

-Você conseguiu, é por você que eu estou sentindo...

-Cala a boca ta legal. – Pus as mãos na minha cabeça e abaixei ela. Fechei bem os olhos agora sentindo o peso de cada lágrima que estava caindo rapidamente dos olhos.

-Já me esqueceu? – Pergunta ele. Olho para ele com a vista embaçada pelas lágrimas, seus olhos brilham por choro que não quer descer ou que ele segura fortemente.

-Eu aprendi a viver sem você. – Sabias palavras ditas por mim, que soaram entorpecidas por alguma coisa, queria que soassem mais fortes, mas infelizmente, eu não estou tão forte assim.

-Michelle eu acordo pensando em você, pensando numa razão para ser quem eu sou, pensando que seu sorriso é um combustível, que nunca ninguém me olhou tão puramente, que nunca eu recebi uma aproximação por alguém que me quer apenas por quem eu sou.

-Você pôs tudo isso no lixo. Eu não quero ter que listar tudo que já me fez, mas começou quando disse que eu teria que sair do seu quarto pois corria risco de alguma pessoa me ver ali... Bruno, sabe o quão mal eu me senti no dia em que você me deu o bolo? Que eu cheguei na sua casa e lá estava outra mulher... Bruno, do seu lado eu me sentia um lixo, um ninguém.

-Desculpas não são suficientes... – Diz ele com sua cabeça baixa.

-Ainda bem que disso você sabe. – Rebato. – E vamos parar por aqui, ok? Você é meu amigo e eu não quero estragar as coisas!

-Mich – Bruno chama minha atenção fazendo virar de frente para ele novamente. – Eu te amo, e eu nunca tive tanta certeza de algo que estava sentindo, mas eu te amo. E se pra te ter ao meu lado é preciso eu esperar mais alguns anos, eu espero, mas eu sempre vou dar um jeito de lembrar você que eu te amo e que sempre estarei aqui.

Fiquei incrédula, quanto tempo eu esperei por isso. Como pode três palavras desarmar uma decisão firme que você tinha tido. Eu sei que estou sendo a mulher mais idiota em ceder, mas essa é a verdadeira Michelle, a que cede pelos encantos do Bruno, a que erra, a que acha que a vida é feita por algum príncipe encantado, a que acredita que tudo pode mudar, essa é a Michelle que fez o Bruno revelar o que ele realmente é. Essa sou eu.

Com impulso dei um passo à frente e ele também. Ficamos nos encarando por momentos até eu tomar coragem para dizer algo.

-Me diz o que eu vi em você que me prende a esse sorriso? Bruno, eu estou sendo a mulher mais idiota do mundo... eu não sei o porque fingi que não gostava mais de você, fingi não me importar, mas a verdade é que eu te amo! – Vi um sorriso se brotar dos seus lábios e uma lágrima cair dos seus olhos. E pela primeira vez – talvez – nós dois estamos sendo verdadeiros com que estamos sentindo!

• Tá eu confesso que achei esse capítulo muito fofinho *u* E vocês? Comentem né :\ ... próximo capítulo vocês já sabem quando, beijos <3