Capítulo 106

Sem pensar duas vezes, andei rápido em sua direção e joguei meus braços enlaçando seu pescoço. Bruno rodeou-me com seus braços fortes, e eu sentia suas mãos fazendo um leve carinho no meio de minhas costas. Primeiro ele deu um tapinha amigável e depois deslizou um pouco pela coluna, subindo e descendo. Enquanto isso meu rosto estava enfiado em seus ombros. Eu não queria soltá-lo, e queria que ele sentisse o mesmo. O perfume que usava não era o mesmo que usava antes, entretanto, era bom do mesmo jeito. Ali, eu não conseguia pensar em nada. Só existia Bruno, eu e nosso caloroso abraço. Segundos depois, e creio que não foram poucos, afrouxei meu aperto e ele fez o mesmo. Soltei-o lentamente e olhei em seus olhos, ele estava chorando – suas lágrimas não corriam pelo rosto como as minhas, mas ainda sim seus olhos estavam úmidos. Não acho bonito ninguém chorar, mas se o motivo do choro dele é essa conversa que tivemos, eu estou achando lindo.

-Como um dia deixei escapar esse abraço de mim? – Pergunta a si mesmo, dando um rápido beijo na minha testa.

Virei meu rosto em direção ao mar, tem algo errado. É lindo vê ele assim pra mim, mas eu passei meses torturantes na sua volta, implorando pelo seu amor, e a única coisa que me respondia nele era seu sexo na cama, e agora ele fala meia dúzia de palavras bonitas e eu me derreto toda... Eu me derreto porque eu sou uma eterna apaixonada por seus olhos castanhos, seus cachos bagunçados, mas ainda sim, eu não posso simplesmente deixar isso acontecer.

-Vamos pra casa! – Afirmo me desvencilhando dos seus braços.

Passo a barra da minha blusa nos meus olhos e seco minhas lágrimas teimosas.

Bruno não deu uma palavra comigo, eu também não falei nada. Hoje foi o dia que ele disse que me amava, o dia que eu esperei para falar mil e uma coisas antes, mas agora esse dia soa como um outro qualquer. É estranho esses meus sentimentos bipolares, ao mesmo tempo que eu quero ele ao meu lado, eu quero ser mais difícil. Ao tempo que minha boca quer pular na sua, e juntas fazerem nossas línguas dançarem, eu olho pra ele e sinto repulsa por tudo que aconteceu.

Entramos silenciosamente e ele larga a chave sobre o console, e eu sigo em direção ao quarto em que estou.

-Vamos jantar? – Sugere ele.

Olho para ele, da porta do quarto e perco o olhar sobre aquele rosto...

-Não, obrigada. – Torço os lábios e abro a porta do quarto. – Boa noite, Bruno! – Continuo.

-Boa noite, Mich.

Bruno Pov’s

Onde foi que eu errei agora? Phil me falou que havia possibilidades de isso não dar certo, ok, eu não me arrependo do que falei, porque tudo é verdade, mas eu não sei o que será da nossa amizade.

No inicio eu até pensei que ela estava aceitando a ideia, e quando ela me abraçou e minha corrente sanguínea parou totalmente de circular, naquele momento eu pensei que seria o nosso retorno, mas ela olhou para o mar e sugeriu ir embora. Porque é tão difícil isso?!

Michelle Pov’s

Acordei com dor nas minhas costas. Nada que uma ginástica rápida não passe.

Levantei da cama e aí que lembrei do episódio de ontem à noite. Não quero estragar a minha viagem pensando nisso. Por quanto tempo esperei esse momento ao certo? Um ano, dois anos, ou esses vinte e oito anos que nós nos conhecemos eu estou esperando isso? Um eu te amo, nem quando éramos amigos eu ouvi isso, mas agora, tudo muda, mas nada muda ao mesmo tempo.

Abro a porta e aproveito que a porta do antigo/atual quarto do Bruno está fechada e desço até a cozinha. Improviso alguma coisa para comer e corro para o pátio.

Enquanto me aproximo da piscina para começar a me alongar, espicho o olhar para a casa ao lado, onde uma menina pequena brinca com um lindo gato.

-Caiu da cama? – Sua voz... sua voz atravessou meus ouvidos e fez meu coração disparar.

-Ah, oi. – Digo olhando rapidamente para trás e voltando a me alongar.

-Oi. – Ouço seus passos se aproximarem de mim e logo ele senta-se numa cadeira espreguiçadeira na borda da piscina. – Vamos onde hoje? – Pergunta ele apoiando suas mãos nos joelhos.

-Não sei. – Respondo quase rispidamente.

-Que tal Honokohau Falls?

-Ah sim, vamos atravessar o Havaí para ir lá? Iríamos levar pelo menos um dia para chegarmos lá. – Bufo.

-Qual é, Michelle? Que péssimo humor é esse que não te permite nem rir da minha piada? Eu sei muito bem que não poderíamos ir até lá. – Despeja as palavras em mim enquanto levanta seu corpo da cadeira. – Quer saber, tenha um ótimo dia.

-Você também!

Eu sei que não devo agir assim com ele, estou aqui graças a sua bondade de me dar as passagens para isso ocorrer, do contrário seria bem difícil. O que eu estou fazendo é me desviando dele para não ter que responder perguntas que iriam me constranger, ou ficar cara a cara com ele depois do que aconteceu ontem poderia me remeter a cair em tentação e novamente eu me entregar pra ele.

Entrei na casa e subi para o meu quarto. Tomei um banho confortável, água morna, e vesti meu biquíni típico brasileiro. Precisava me relaxar. Passei protetor pelo corpo, e uma dificuldade para passar em minhas costas, mas consegui. Coloquei uma canga sobre minha cintura e peguei meu celular.

Passei pelo Bruno que falava algumas coisas havaianas no telefone, creio eu que está pedindo comida, e fui direto para a piscina. Deitei-me na cadeira e liguei para Anne.

-Alô. – Diz sua voz convidativa.

-Bom dia flor do dia. – Digo com humor e ela ri.

-Bom dia, é... as coisas devem estar fervendo por aí para estar com esse humor todo.

-Fervendo de raiva você quer dizer. – Bufei e olhei brevemente para a janela de onde antes dava para ver onde o Bruno estava.

-O que houve?

-Está tudo perfeito, mas ontem... – Eu não sabia como denominar o que aconteceu ontem.

-O que houve ontem? – Curiosa, pergunta.

-Bruno se declarou pra mim. – Informei a ela.

-Co-como? – Gagueja e solta uma gargalhada alta. – Só pode estar brincando.

-Não, não estou, e tem mais, ele disse que me ama e eu não sei o que fazer.

-Michelle. – Eu já sei o que ela irá falar. – Há umas duas semanas atrás, quase três, eu diria para você largar fora, correr daí e não cair em tentação, mas eu não sou você, eu não posso te aconselhar as coisas que só seu coração pode decidir. Siga ele, veja o que você verdadeiramente quer, mas não fica pensando demais... Lembra que você só tem essa vida meu amor, aproveite-a.

Fiquei abismada com o que ela falou.

-Quem é você? Cadê minha prima? – Pergunto em tom de brincadeira.

-Sequestrei ela, passa a grana. – Ela brinca e ri. – Sério, não quero ser a culpada por seus atos que podem –ou não- deixa-la infeliz depois.

-Obrigada, eu acho que isso foi... não sei explicar. 

Novamente procurei o Bruno com o olhar para dentro da casa, mas ele não estava mais no telefone.

-Só vou pedir que use camisinha. – Gargalho junto com ela.

-Boba, já pensa que vamos direto para a cama... eu tenho que resolver assuntos em Los Angeles ainda antes de pensar em qualquer resposta.

-Assuntos em Los Angeles? O que seria? Chucky? Meu amor manda esse cara se danar, vá atrás do que lhe faz feliz.

-Anne, é sério, estou com medo do que você está me falando.

-Estou falando o que deveria ter dito há muito tempo. Eu tenho minhas desavenças com o Bruno porque um dia ele foi muito cachorro com você, mas ao que me parece... Ele está mudando. – Suas palavras me acalmaram, e é verdade, querendo ou não, Bruno está mudando pra melhor.

-Obrigada, eu te amo muito, nunca esqueça disso.

-Estou aqui sempre, e eu também te amo... Não faça nenhuma bobagem, use camisinha, e aproveite!

Porque essa vontade constante de chorar? Desligamos o telefone assim que nos despedimos e eu virei para o lado oposto da casa, olhando para o nada, sentindo meu corpo pegando o calor do sol, bronzeando-me novamente.

Quando eu tinha 16 anos tudo era mais fácil, e ouvia uma música que dizia “Aproveite seus 16 anos enquanto puder, as mudanças aparecem rápido”. E assim se fez, eu não aproveitei todos os meus momentos dos meus 16 anos, mas vivi intensamente enquanto pude.

Parece que quando crescemos, viramos adultos, que pensamos “agora vamos ser mais responsáveis, mais gênios”, se vira contra nós mesmos, porque adultos fazem mais merda do que adolescentes.

Respiro fundo e fecho meus olhos. Sinto a presença de alguém, abro-os devagar e Bruno está chegando perto de mim com duas marmitas.

-Pedi comida para nós, vou deixar em cima da mesa. – Secamente, ele diz. Não queria ter que brigar com ele, nem discutirmos, mas parece que nada se encaixa, nada.

-Obrigada. – Falo enquanto me ajeito para levantar.

Acompanho seus passos com uma certa distância, vou até a mesa e pego a minha marmita de alumínio e coloco distante dele. Abro uma das portas da cozinha procurando um prato.

-O que está procurando? – Pergunta ele chegando em uma das gavetas para pegar talheres.

-Prato. – Respondo e ele só aponta. Assenti com minha cabeça e pego o prato e já aproveito para pegar os meus talheres.

Pior sensação é comer com alguém quando você e essa pessoa não estão de bem. Eu nem tinha fome, então fiquei brincando com os talheres na comida muito boa que estava no meu prato, mas a vontade de comer não subia – não enquanto o Bruno ainda estivesse assim comigo, mas a culpa é minha. 

(escute essa música a partir do segundo 0:40)

-Me desculpa, ta legal! – Largo meus talheres no prato fazendo barulho e chama a atenção do Bruno. – Eu sei que não deveria ter agido assim desde ontem quando você falou aquelas coisas, mas eu me assustei. Passei um ano querendo que você dissesse que me amava, e me tratasse como sua namorada, um amor para a minha vida, mas isso nunca aconteceu, e agora que eu estava acostumada a viver sem você ao meu lado, você chega e diz isso. É bastante coisa pra absorver se você parar pra pensar. Eu não sei o que se passa mais na minha cabeça, eu não consigo parar de pensar em besteiras, e também não consigo parar de falar. – Enquanto as palavras iam saindo da minha boca sem ao menos eu ter o controle delas, Bruno levanta do seu lugar e fica ao meu lado. Viro-me na cadeira e continuo falando.

-Hey, calma, respira. – Ele coloca o dedo indicador sobre a minha boca. – Tudo bem?

-Tudo. – Respiro fundo.

-Mich... Eu sei que é tarde demais pra perceber, mas você não precisa falar nada pra mim, não estou exigindo uma resposta sobre eu amar você, não estou pedindo que pense em voltar comigo, apenas comuniquei a você que agora eu tenho a certeza que eu deveria ter a mais ou menos dois anos atrás.

-Bruno! – Pensei em dizer que isso está confuso, mas sou eu que estou tornando isso pior. – Desculpa por eu sempre ser a culpada.

-Shiii, nem sempre foi você! – Suas mãos repousaram em meus joelhos.

-Sempre sim. Se eu não começasse com a história boba de garota apaixonada nada disso estaria acontecendo.

-Mas daí eu sofreria calado, continuando cafajeste, mas no fundo amando você secretamente.

-Eu nem sei o que falar. – Desviei meu olhar dele.

-Sorria. – Opina ele.

-Para. – Dei um sorriso bobo e ele ri.

-Assim... Quando você sorri, eu perco a noção de tudo e qualquer coisa. Fico naquela de não saber se junto meu sorriso ao seu ou se repouso meus olhos nos teus e fico por segundos te contemplando.

Eu o amo, eu amo o Bruno, eu tenho certeza disso, mas sou a mais idiota por achar que esconder isso de mim mesma me faria bem. Ouvir tudo isso que ele está falando desde ontem me fez despertar aquela Michelle tão apaixonada, aquela Michelle com vontade de amá-lo a cada dia mais e mais.

Joguei minhas mãos ao redor do seu pescoço.

“Siga ele, veja o que você verdadeiramente quer, mas não fica pensando demais... Lembra que você só tem essa vida meu amor, aproveite-a.” 

Lembrei do que Anne me disse, e ela tem razão. Me perdi no seu olhar e encostei nossos lábios pela primeira vez em tempos. Uma sensação de que tudo que aconteceu foi um sonho ruim e que agora é nossa vida começando novamente. Suas mãos tocaram minhas bochechas me segurando como se não quisesse que eu escapasse. Foi verdadeiro tudo isso! 

Abri meus olhos e atrapalhei o beijo, ele ainda me segurava, encostamos as pontas de nossos narizes e eu sorri diante dos seus olhos.

-Esperei tanto por esse momento novamente. – Seu sorriso também brota.

• E o próximo hein? Como será? Agora será que é a volta de brunelle de vez? <3 Tomara né! Sentimos cheiro de hot...? :p ndisaondiosa próximo capítulo quarta amores, comentem e beijos